quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

UM GOLPE e DUAS VIDAS ENCARCERADAS

"Na hora do meu casamento, no dia 25 de agosto de 2011,  o primeiro e último de uma vida sozinha e de quase nada conquistado, aos 62 anos de idade, meu coração batia feliz e emocionado. Era o começo de tudo novo e nunca imaginado, como se eu tivesse ganhado a loteria sozinha. Naquele momento, um filme passou na minha cabeça. Nasci e me criei na Paraíba, numa família paupérrima. Aos vinte anos de idade, fui para o Rio de Janeiro, sem conhecer ninguém e cheia de sonhos e ilusões. Todo o dinheiro que eu tinha só dava para pagar a mais pobre das pensões e por um tempo máximo de três meses. Como professora recém formada, as oportunidades eram poucas, mesmo assim, consegui meu primeiro emprego numa escola particular e ruim. Com o emprego e um salário infímo, pude pagar o aluguel de um barraco, nos fundos de outro barraco, num dos Morros do Rio. Os anos passaram e eu consegui outros empregos melhores e morando sempre no mesmo lugar. No começo eu tinha medo das chuvas e do barraco desabar, depois acostumei. Tudo o que eu temia, eu ia me acostumando , enquanto juntava um dinheirinho para comprar uma casinha, quando me aposentasse. Aposentada, voltei pra minha terra, mas o dinheiro que eu juntei por anos, não me permitiu comprar um imóvel. Fiquei morando numa casinha que um dos meus irmãos me cedeu. Um dia e eu mal sabia , comprei um computador, em 24 prestações, e contratei a internet mais barata. O que eu não sabia era que ele seria o meu bilhete premiado. Aprendi a usá-lo e na minha aposentadoria sem ter o que fazer, ele se tornou meu melhor amigo. Entrei numa dessas Redes Sociais e fiquei amiga de muitos. Como eu achava que ninguém daria importância a uma senhora, coloquei uma foto qualquer. Numa tarde, sem nada pra fazer, fiquei conversando com um dos meus amigos virtuais. Quando me dei conta, estava me entregando para ele, numa relação sexual virtual. Ficamos dias juntos. Sempre que eu ligava o meu computador, havia um recado dele ou vice-versa. Até que eu, inocentemente, contei a verdade sobre a minha idade e mandei uma foto minha confiando no amor dele, aos 70 anos. Ele desapareceu. Nunca mais falou comigo. Eu sofri tudo. Meu sonho de amor verdadeiro mesmo na minha idade havia sido totalmente perdido. De luto por aquela perda irreparável, eu ia construindo com toda paciência do mundo, uma nova mulher, mais uma falsa. Se ele caísse, seria a grande chance de mudar a minha vida. Se ele não caísse, o jeito era continuar a viver aquela dor. Com tudo pronto, eu o chamei e ele conversou comigo, pensando ser outra mulher. Vivemos tudo aquilo de novo. A diferença era que eu gravava tudo. Quando eu já tinha todas as provas contra o grande homem multimilionário, eu me revelei. Ele ficou novamente sem falar comigo e sem que eu pudesse vê-lo. Mas, eu tinha o telefone dele, da primeira vez em que ficamos juntos e liguei pra ele propondo que ele se casasse comigo ou eu o denunciaria por pedofilia, porque, com data de nascimento oculta, ele não tinha podido ver que estava praticando sexo virtual, com uma menor. Era fácil pra mim conseguir uma garota que confirmasse ser ela a garota com quem ele fazia sexo virtual. Qualquer cem reais garantiria um grande escândalo na mídia. Ele zombou de mim e eu dei a ele um prazo de dois dias para decidir. Ele me mandou à merda e bateu o telefone na minha cara. Calmamente, eu esperei os dois dias. Antes das 48 horas, ele me ligou aceitando a minha proposta. No dia do meu casamento, meu coração batia feliz e ele indignado. Não conseguia fingir a revolta que sentia. Hoje moro numa mansão, no Rio de Janeiro, com um multimilionário de 71 anos, doente, viciado em masturbação e que nem olha pra mim. Eu sou muito feliz. Estou lhe dando esse depoimento agora  na certeza de que você manterá minha identidade oculta e, se eu bem entender, saio daqui e vou direto para o aeroporto para ir a qualquer lugar do mundo. Sem bagagem, sem nem precisar ir em casa pegar meu passaporte. Meu morista que está aqui comigo, me deixa no aeroporto e outro motorista traz o passaporte. Eu raramente levo bagagem comigo, porque gosto de comprar roupas novas no País em que estarei. O amor não existe mais pra mim. Ele que se dane com o vício dele. Eu vivo a minha vida multimilionária. Ah, eu tenho um amante." - Do livro "Depoimentos e histórias da internet", inédito. De Cássia Rodrigues de Melo.

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