sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

As Boas Intenções às Vezes ...

podem fazer uma cicatriz sangrar de novo.
No final da tarde de ontem, minha amiga me chamou para um café, perto da minha casa e devolver meu notbook que estava com ela, pois havia acabado de comprar um novo pra ela  e me devolver o meu com a "limpeza geral" que fez nele.
Saboreando um delicioso café, ela me disse, depois de um tempo de conversa e mudando de assunto:
- Eu pensava que ele gostava de mim, mas não está falando comigo.
Eu muito compreensiva falei pra ela:
- Ele gosta sim de você e gosta tanto que, numa conversa com ele, ele mesmo me disse que queria muito que você fosse nora dele. Dê um tempo pra ele. Ele passou por situações de risco e hoje deve estar se sentindo ameaçado por fantasmas. Deve estar desconfiado de muitas coisas e pessoas. Tenha paciência com ele. Quando ele confiar em você, vai falar. Se isso for tão importante pra você, vai falando de coisas boas, das suas vitórias e superações...
Antes de eu terminar de falar tão compreensiva, ela me interrompeu dizendo:
- Eu queria que ele falasse comigo e falasse com você.
Eu disse:
- Comigo, não. Nem pensar.
Ela me olhou e , meio sem graça, confessou:
- Eu falei de você pra ele e até dei uma foto sua...
Ela nem precisou concluir. A minha compreensão, a minha calma, a minha paciência foram , na mesma hora, pro brejo.
- Quem lhe deu esse direito? Como você teve coragem de falar de mim pra ele? Como você pode? - Eu questionei zangada.
Ela respondeu:
- Vocês eram amigos, uma confusão separou vocês e  ainda os meus irmãos aprontaram. Pela parte que me toca, eu tenho esse direito, sim.
Respirei fundo e mandei um discurso:
- Eu nunca vou tirar de você o carinho que você tem por ele, mas antes de falar de mim, você deveria ter me perguntado. Reconheço e agradeço a sua boa intenção, mas certas pessoas, eu dispenso na minha vida. Eu vou até onde consigo ir, todavia, sei quando não devo mais seguir. Ele nunca foi meu amigo. Eu o procurei dezenas de vezes, ele nunca me respondeu. Ele sabia que eu me consumia em culpa e nunca, nem por um segundo, ele foi solidário. Ás vezes, mesmo com mágoas, a gente pode ser sim, solidário  com quem nos magoou, principalmente, quando vemos que quem magoou, se consome em culpa. Pode até não perdoar, mas pode ser solidário. O silêncio, pode ser uma boa resposta, todavia, dependendo da situação, pode ser uma navalha, a nos ferir cada vez mais ou nos fazer ferir. Ele foi uma navalha a me machucar e a me fazer me machucar. Independente de qualquer situação, um homem digno, conversa, ouve e manifesta sua posição sobre o fato. Os seus irmãos poderiam ter feito o que bem entendessem, mas se ele fosse honrado, teria falado comigo. Ele não só se manteve silencioso, como, na primeira oportunidade que teve, ainda tentando me prejudicar, me vetando do grupo. Contudo, o grupo não deu a mínima pro veto dele e eu continuei. Mesmo com ele me batendo, eu o procurava, porque eu me sentia a pesonificação da culpa. E ele, soberano em seu silêncio, me ofendia ou me fazia me machucar mais ainda. Até que um dia, ele foi mais longe. Ao pedir a ele um abraço, de modo a acabar com aquilo tudo, o que ele fez foi bater a porta e aquela porta fechada, pra mim, foi uma porrada bem no meio da minha cara. Hoje, se um dia eu vier a saber que ele morreu, o máximo que direi, será: Antes ele do que eu. Hoje, como mulher que apanhou dele, eu sei que ele é um reacionário, porque, quando se trata de violência contra a mulher, ainda mais por quem tem poder, é tão machista quanto qualquer reacionário. Pra terminar a conversa, respeite a lei que eu mesma impus a mim mesma: De ficar muito, muito longe dele. Só isso".
Ela ficou um tanto espantada e disse:
- Como você é capaz de odiar assim?
Eu respondi:
- Não é ódio. É defesa.
Mudamos de assunto e na saída, eu tropecei e machuquei o pé que latejou a noite inteira e eu cheguei a ter febre. A dor no pé e a febre, nada mais eram, que uma cicatriz aberta, a me ferir de novo, mas que, ao amanhecer, nada mais doía e eu corri, como todos os dias. Eu ainda corria, quando ela me ligou desconfiada. Eu ri. Por fim, rimos. É vendo a ferida sangrar que a gente entende, que tudo passa. Tudo muda e a vida é feita de mudanças seguidas, sempre em frente, porque, o que passou, se ainda de tudo não passou, é certo que passará. Uma parte de mim quebrou e eu sinto que foi pra sempre.


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