quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Preconceito e Inocência.

Creio que nem a minha família sabe das muitas coisas que passei na vida. Nada de drama, mas de superações. Em outro texto, eu contei que nasci com deficiência nas pernas e tive que usar botas até os 12 anos. As botas e outras coisas, me levaram a um complexo tremendo e, por consequência, ao isolamento. Mesmo depois de retiradas as botas, mesmo com a deficiência corrigida, eu não me libertei da prisão das botas, que ainda as usava na imaginação, uma vez que, a timidez, oriunda do complexo e do medo da liberdade, me mantinham presa. Do jeito em que eu vivia e me sentia, não emergeria uma mulher, mas alguém que passaria a vida sem sequer se dar conta dela. Aos 13 anos, eu conheci um homem idoso  que, depois de um casamento e três filhos, assumiu sua homessexualidade. De certa forma, também me assumiu, porque era professor e viu em mim, uma menina que não conseguia crescer, ainda presa nas pesadas botas. Muitas conversas dele, em nada me faziam sair das botas, onde eu me escondia. Assim, ele radicalizou. Queria que a menina desaborchasse e crescesse como uma mulher com um mundo pela frente a ser conquistado. A primiera coisa que ele me colocou para aprender e, numa época em que isso era coisa de cabaré, foi Poli Dance. Nem ele sabia e muito menos eu, como me exercitar ali. Aos poucos e com muitas quedas, eu aprendia e quanto mais aprendia, mais amava os malabarismos que eu fazia e ele, orgulhoso, aplaudia. Depois, foi dança cigana, flamenco e tango. Dessa forma, nasceria uma mulher ciente da sua sexualidade e sensualidade. Recentemente ele faleceu e eu o amava muito, por ter se tornado um pai pra mim de muitos ensinamentos. Foi o primeiro a ver meu primeiro livro publicado, embora tivesse lido todos. Orgulhava-se de mim, como um pai deve se orgulhar de ver a filha crescer e florescer e lutar, porque, isso ele também me ensinou: "Mulheres de verdade, têm que ser politicamente corretas". Ele era comunista.
Mas, se vivo ele estivesse, não sei o que me aconselharia, ao saber do preconceito que sofro, incrivelmente, por escrever.
Eu vivi uma situação inimaginável e que deveria parar onde parou. Todavia, uma série de outras situações foram sendo criadas de modo a me "incriminar" cada vez mais. Eu vivi duas situações, em dois momentos diferentes e com a mesma pessoa. Do resto, eu nada sabia. Exceto da tentativa de um amigo de me reaproximar da pessoa envolvida.
Outro dia, eu soube que foi bem mais que isso. De volta ao Facebook, minha amiga me mandou uma mensagem me contando que, ao falar com o namorado, depois de muito tempo afastados, ele perguntou pra ela: " Fernanda, com qual das suas personagens eu estou falando?" e citou vários nomes. Ela respondeu que era ela e não eu e que, muito diferente do que ele pensava, eu também havia sido enganada por duas pessoas, a se divertirem com a mesma pessoa em que eu me envolvi em duas situações e momentos diferentes.
Eu tenho vários personagens, todos fictícios e, muitas vezes, eu, que os crio, perco o controle sobre eles, quanto mais no mundo real. Como criar e sustentar personagens fictícios junto às pessoas reais? Acho isso impossível, pelo menos pra mim que, felizmente, reconheço que sou de uma honestidade que dá raiva. Não sei manter situações imaginárias por muito tempo, porque me dói saber que estou enganando não apenas os outros, mas, principalmente a mim mesma.
Dessa forma, vi que o mau uso da ficção, dá espaço pra má utilização de terceiros, marginaliza e isola, pela falta de espaço de defesa. Fico condenada, mas livre das botas. Essas cadeias, não me seguram. Aprendi a superar cedo e na superação, saber o que é bom e o que não é pra mim. O que é bom, eu guardo. O que é ruim, jogo fora.

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